quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A muda nos Canários





A muda da pena nos canários, como noutras aves, indica a preparação para o Inverno, dela vão resultar novos mantos, belíssimos mantos brilhantes que os protegerão das intempéries de uma estação onde o frio e a humidade imperam. Assim, com uma plumagem nova e quase impermeável, mais facilmente conseguirão sobreviver.

Quando pelo chão do canaril começam a aparecer penas é porque as aves começaram a mudar a plumagem. Geralmente inicia-se em Agosto para os filhotes da primeira ninhada. São as jovens aves que dão inicio à muda seguindo-se os progenitores. Os canários do ano normalmente não mudam as rémiges, lectrizes e tétrizes, tornando-se a muda menos penosa que nos adultos onde a mudança é total e exaustiva. As aves tornam-se mais débeis e vulneráveis a doenças. Para que a muda tenha êxito são necessários espaço, boa alimentação, bom arejamento do canaril, higiene periódica e um ambiente calmo evitando ao máximo o stress.

Os cuidados para uma plumagem sedosa, macia e brilhante começam no ninho mesmo antes dos primeiros ovos. Muito importante para as aves que necessitam de pigmentação artificial tanto aves melânicas como lipócromas, essencialmente de factor vermelho e amarelo. É aqui que se deve preparar a coloração tendo para isso o criador de fornecer a pigmentação artificial própria para cada tipo de ave tendo em conta se é melânica ou lipócroma e neste último caso se a ave necessita de pigmentação vermelha ou amarela.

Em todo o caso devem-se tomar precauções porque as substâncias que permitem a coloração artificial são filtradas pelos rins e fígado dando por vezes origem a doenças renais ou biliares. Eu, embora crie canários essencialmente melânicos (Canários Lizard e Borders em que não são admitidos corantes) administro regularmente um fármaco veterinário à base de Sorbitol. Costuma este composto estar aliado também a Lisina e a Colina. Tem um efeito benéfico sobre vários factores incluindo intoxicações no fígado e rins. Tenho este cuidado devido a possíveis sobrealimentações que muitas vezes passam despercebidas.

A alimentação é muito importante para a formação das penas e consequente mudança da plumagem. Os filhotes bem nutridos, a meu ver, evidenciam-se quando os “canudos” estão quase negros no dia da anilhagem (5º a 6º dias). Para isso devem ser alimentados, de preferência, com os sucos gástricos tanto da mãe como do pai, com a papa de cria, sementes germinadas ou cozidas (Eu utilizo as germinadas), alpista e aveia descascada (A aveia deve ser o mais branca possível e sem pó). A partir do 5º dia junto maçã. Ao 10º dia costumo inserir verduras. Pessoalmente prefiro as ervas do campo: Brássicas, Crucíferas e Beldroegas. Dou uma vez por semana. Quando separo as crias tento manter a mesma dieta eliminando, nas duas primeiras semanas as ervas, voltando a serem dadas com a mesma periodicidade.

Muito cuidado ao administrar ervas do campo pelos seguintes motivos: Os pesticidas, os parasitas, fezes e urina de animais. Deve-se escolher muito bem o local onde se apanham as plantas, de preferência devem vir do nosso quintal ou dos nossos vasos. Para libertar as ervas dos parasitas basta ficarem imersas em água com vinagre de vinho durante uma hora deixando secar ao sol.

Quando os canários vão para o voadouro, passadas cerca de duas três semanas começamos a notar algumas plumas no chão. Trata-se de uma pequena muda que por vezes acaba dentro de outras duas semanas. É como que uma preparação. A muda, não é repentina, tem fases consoante a temperatura e luminosidade e também a humidade. Nos Verões em que o calor é prolongado e o ar seco, a muda atrasa-se. A altura em que é mais acentuada geralmente ocorre em Agosto e princípios de Setembro para os canários do ano. Mas isto acontece no meu sistema de criação porque as minhas aves começam a reprodução em finais de Fevereiro princípios de Março sensivelmente. Para outros sistemas de criação, especialmente para quem começa a criar muito cedo, a muda será igualmente mais cedo.

Há que ter cuidado com alterações bruscas de temperatura e luminosidade especialmente porque a sua oscilação provoca uma muda súbita o que não seria nada agradável no meio do período da reprodução. Outra situação é o Stress. Muitas vezes depois das exposições ou mudança de instalações as aves entram em muda. Os meus canários, quando acidentalmente tive que fazer umas alterações ao canaril, tiveram uma muda diferente dos outros anos em que o ambiente era calmo. Notei que a muda não se dava continuamente, existindo fases em que a queda das penas era maior e outras em que quase não caíam.

O “desmame” da alimentação das crias deve ser orientado para a alimentação própria da muda da pena. Os antigos punham nos voadouros sebo de vaca. Diziam que os canários ficavam com as penas mais brilhantes. Não é por acaso que tal acontecia pois a gordura, além do mais, tem que estar presente nesta época. Como vamos dar gordura? Com sebo de vaca? Claro que não precisamos de correr riscos, com todo o tipo de doenças que este tipo de “truque” passado de gerações em gerações causava. Pois talvez a mortandade das aves fosse avassaladora. Pessoalmente penso que a melhor forma das aves obterem a gordura correcta de que necessitam é através das sementes germinadas. Nas sementes germinadas, a sua gordura está presente como alfatocoferol vitamina liposoluvel, a vitamina específica do crescimento, renovação e construção de tecidos, necessária à reprodução e essencial na renovação das penas.

Este preparado de sementes está incluído na alimentação dos meus canários durante todo o ano (embora em dosagens diferente). Nesta altura, elas fazem parte da ementa dos meus canários diariamente. Mas atenção! Para a alimentação com estas sementes são necessários cuidados especiais pois a isso o exigem sob pena da proliferação de fungos, bolores e bactérias tipo salmonelas, colibaciloses e cândidas.

Se a temperatura subir acima dos 30ºC mudo as sementes duas vezes por dia assim como os recipientes em que ficaram, colocando-os em água com lixívia ou vinagre de vinho. Se a temperatura não for tão alta basta uma vez. Não guardo restos de sementes, preparando-as para isso todos os dias. Dou também papa com vitaminas e aminoácidos essenciais próprias destinadas ao aceleramento e boa formação das novas penas. Os aminoácidos que devem estar presentes na alimentação serão, a lisina, metionina e cistina como também a biotina.

Continuo com alpista diariamente e aveia descascada em dias alternados. Tendo atenção o funcionamento dos intestinos, junto ao esquema alimentar ervas duas vezes por semana (por exemplo à segunda-feira e à quinta-feira). Tenho o hábito de deixar um recipiente bastante largo com terra que foi retirada do meu quintal no início das chuvas no Inverno. Nesta altura a terra está limpa contendo muitos nutrientes que os canários adoram tendo também o deleite de se “espojarem”.

Quando está prestes a terminar a muda deixo de fornecer aveia pois a necessidade de hidratos de carbono diminui. Visto isto para evitar a obesidade deixo os canários com uma dieta que denomino de dieta de repouso. Consiste essencialmente em alpista, sementes germinadas em proporções muito menores que anteriormente, papa de muda também muito simbolicamente, ervas, maçã e cenoura em dias alternados. Adiciono também papa com alho em pó.

Quando há uma grande população no canaril os cuidados com a higiene devem ser redobrados. Pessoalmente troco os bebedouros e comedouros de sementes germinadas diariamente por outros que tiveram imersos em água com lixívia e que ficaram expostos ao sol durante um dia. Renovo os tabuleiros do fundo das gaiolas por outros lavados em que coloco no fundo sal sendo cobertos por folhas de papel, pode ser jornal. Assim é mais difícil que ácaros e bactérias proliferem pois o sal inibe o aparecimento destas. Todos os utensílios de madeira são pincelados por uma solução de óleo de soja misturado com um acaricida em pó, deixando secar posteriormente os utensílios. O chão do voadouro contém areia de gato nos locais onde as aves defecam, sendo renovado semanalmente ou se a população é muito elevada mais amiúde. Lavo o chão com uma esfregona molhada em água com um pouco de lixívia. Nesta altura deixo as janelas abertas provocando um grande arejamento durante duas ou três horas. Nunca tive problemas, no entanto há quem em vez de lixívia junte vinagre de vinho, substância inócua com um elevado poder de desinfecção.

Todo o voadouro tem poleiros individuais, tipo poleiro casinha de plástico que impedem a picagem, aumentando o espaço útil não havendo aves sujas. Outra vantagem é que o próprio voadouro mantém-se mais tempo limpo.

O arejamento do espaço é vital para bons resultados e nesta fase é muito importante pois mais do que nunca as aves necessitam de ar limpo isento de partículas nocivas à sua saúde. Nos dias de muito calor pode abrir as janelas durante o período da manhã fechando-as quando a temperatura começa a subir. Assim como no fim da tarde e eventualmente durante a noite, se a amplitude térmica não for exagerada. Mas reside o problema do pó das penas e claro, as plumagens. Sugiro, para uma boa ventilação e filtragem do pó e das plumagens, um sistema feito com uma caixa em que numa extremidade coloca-se uma ventoinha que obriga o ar a entrar dentro da caixa. Colocando na abertura de entrada da caixa uma rede com malha de aproximadamente 1 cm e no meio um filtro feito com uma espécie de tecido tipo “Drakalon” à venda nas retrosarias (costuma servir para encher edredões). A caixa deve localizar-se num canto do canaril de preferência no chão.

Um sistema de emergência para aqueles dias de calor abrasivo pode ser usar mesmo uma pequena ventoinha. Se eventualmente vivermos num local sujeito a fumos de escape, ou outros será melhor utilizar um ionizador para filtragem e purificação do ar.

O espaço é medido teoricamente por cerca de 4 aves por metro cúbico. A meu ver penso que o espaço deve ser contabilizado apenas pela parte útil. Quero com isto dizer local para alimentação individual, local de voo, local de descanso e banho. Os canários nesta altura sentem a necessidade de bando tendo comportamentos próprios das espécies que vivem em comunidade. No entanto não significa que se amontoem. Uma sobre população leva inevitavelmente e naturalmente à proliferação de doenças como tentativa de reequilibrar esta mesma população. Pois naturalmente quando há excesso de população a Natureza despoleta a defesa de eliminar parte dessa população. Em consequência teremos aves mais débeis, pior nutridas, com comportamentos como a picagem e atreitas a doenças. A arquitectura do espaço do canaril terá de passar pelo espaço útil de cada indivíduo assim como todas as actividades próprias do bando.



Fonte: Manuel João Múrias