segunda-feira, 22 de março de 2010

Os factores mosaicos

Os factores mosaicos no plural, porquê? Existem com efeito vários factores "mosaico", ou antes diversos dimorfismos provenientes de origens diferentes:
1 - Cardinalito da Venezuela:
2 - Canários ingleses do tipo Gloster;
3 - Serinus cini e outros.
O factor mosaico que foi captado no Cardinalito da Venezuela é de longe, a meu ver, o dimorfismo mais qualitativo , porque as aves "mosaico" próximas do Cardinalito possuem todos os pontos de eleição de um lipocromo perfeito em intensidade, não tendo "schimel" (nevado), uma plumagem muito curta e uma delicadeza de pena inigualável.

De notar que no Cardinalito da Venezuela existem dois tipos de aves, um deles possuindo uma grande banda branca que, partindo do abdómen, sobe no sentido do peito. É este tipo que se deve acasalar para melhorar o facto mosaico.

As primeiras aves "mosaico" apareceram na Holanda a partir do cruzamento Cardinalito da Venezuela x Vermelho lipocromo. O trabalho rigoroso e a selecção que daí resultou, trouxe fêmeas mosaico muito belas, quer em melanina quer em lipocromo, mas trataremos agora apenas do mosaico Vermelho Lipocromo. Estas fêmeas apresentavam-se de cor branca cré sobre o dorso e pontos de eleição dum belo vermelho vivo e luminoso; as linhas oculares muito finas, embora bem distintas. A pena era de tal modo fina que o lipocromo sobressaia no meio do branco neve.

Recordo-me de uma fêmea que adquiri por intermédio de Mario Ascheri. Tal fêmea era originaria de uma linhagem holandesa (º nº de "Stam" 4942, criador célebre) porque a pena dessas aves podia ser comparada com a seda. Não me posso esquecer disso, pois o branco cré era de uma brancura magnífica, devido à delicadeza inigualável da pena.

Diga-se de passagem que não era necessário o recurso a "lavagens especiais" com champôs para cães brancos, ao contrário do que é hoje praticado por criadores de canários mosaicos, tanto a nível nacional como internacional.

Os pontos de eleição do "protótipo" mosaico eram de um vermelho intenso, "luminoso" e sem "schimmel". Esta é a prova viva do factor qualitativo mosaico fornecido pelo Cardinalito da Venezuela.
Os machos, pelo contrário não eram nada de espectaculares e não podiam ser aves de concurso, pelo menos segundo os critérios actuais. Estes últimos apresentavam "schimmel" dorsal importante, com um lipocromo muito intenso nas espáduas, peito, cabeça e uropígeo.

Os melhores machos apresentavam um abdómen muito branco, que se prolongava para cima sobre o peito. O conjunto era sempre caracterizado por uma plumagem bastante curta e bem luminosa. Eis o que há quanto ao factor mosaico qualitativo.
Seguidamente um factor quantitativo foi introduzido no mosaico por criadores italianos, e Mario Ascheri, em visita à exposição de Reggio Emília de 1969, ficou maravilhado com um stam de machos que possuíam um tipo mosaico diferente, muito mais espectacular.

A máscara bem vermelha destacava-se nitidamente do peito, as espáduas e uropígeo eram os de uma fêmea, no entanto com um pouco mais de rosa sobre o dorso e no peito. Isto foi uma revolução e este mosaicos foram denominados "Novo Tipo". É evidente que Mario Ascheri os adquiriu, e mais tarde eu adquiri um macho. Pelo estudo desse macho, compreendi que a estrutura das penas tinha mudado: o branco era menos luminoso e a cabeça mais forte, as patas mais curtas, os olhos ligeiramente rasgados e amendoados. O conjunto da ave era mais pesado do que o mosaico que criávamos.
Todos os criadores de mosaico se precipitaram e toda a gente reproduziu esse tipo de mosaico. Mas há sempre o reverso da medalha.

A selecção que se seguiu foi conduzida no mau sentido, e por força de manter mais branco, o lipocromo, quer nos machos quer nas fêmeas, tornava-se pálido, a pena alongava-se à medida que prosseguiam os acasalamentos, o traço do olho (nas fêmeas) desapareceu para dar lugar a "lunetas", ou melhor, mascarilhas de um lipocromo pálido. A seguir apareceram os quistos.
Entretanto compreendi que esse factor mosaico foi captado dos canários ingleses do tipo Gloster. Para o verificar refiz os mesmos acasalamentos e cheguei aos mesmos resultados.
Era necessário suprimir os defeitos produzidos por esse novo factor mosaico, embora conservando as qualidades. A única forma era partir de novo de Cardinalito da Venezuela.

Só este acasalamento permitia:
- Restituir o lipocromo intensivo.
- Encurtar as penas.
- Modificar em parte a estrutura da pena
- Reencontrar a parte do mosaico inicial por modificação da estrutura da pena.

Actualmente, após esses diferentes acasalamentos, podemos considerar que os mosaicos vermelhos são belos exemplares, todavia com um objectivo a nunca perder de vista: Ligar Intimamente o Factor Qualitativo e o factor Quantitativo. Nunca esquecer que é o protótipo ou modelo mosaico perfeito da fêmea que reflecte a qualidade do casal.

Uma boa máscara no macho não é forçosamente uma qualidade para dar boas fêmeas. Existem com efeito machos mosaicos em concursos que possuem uma bela máscara, bem cotada, que não passam de mosaicos "reles" (à francesa, mosaiques "BIDON"…).

Se os observarmos mais de perto apercebemo-nos de que:
- a estrutura da pena é mais espessa; logo, afastada do Cardinalito;
- o lipocromo desce no abdómen quase até à cauda.
- A tipicidade dos traços finos no olho é muito importante, pois tudo daí parte para obter uma linha mosaico de qualidade.

É falso pretender-se que existem fêmeas para fazer machos, e machos para fazer fêmeas. Alguns criadores lançaram essa teoria há alguns anos, defendendo que fêmeas possuindo muito lipocromo na máscara melhorariam os factores mosaico no macho, e que machos tendo uma pequena máscara dariam boas fêmeas. É uma Falácia!

As qualidades de um mosaico traduzir-se-ão por:
Macho:
- Uma máscara muito intensa.
- Um lipocromo muito vermelho nos pontos de eleição, sem "schimmel" no meio.
- Um branco muito luminoso (sem recurso a champô…) para as partes brancas.
Uma plumagem muito curta e marcada em lipocromo,.
Um branco cré, bem luminoso no abdómen, subindo em direcção ao alto do peito.

Eis um macho que dará boas fêmeas.
Fêmea:
- Plumagem sedosa.
- Pontos de eleição muito vermelhos.
- Traço ocular bem marcado, sem lunetas, ou máscara ligeira.

Eis uma fêmea que dará bons machos mosaicos.
Nos dois casos, as rémiges deverão ser brancas, pois aumentar-se-à a qualidade do factor vermelho. Isto obtém-se por selecção; no entanto, uma alimentação à base de papa contendo corantes amarelos artificiais pode pigmentar as rémiges, da mesma forma que:
- Tratamentos antibióticos.
- Verdura na altura da criação.
- Muito ovo de galinha do campo. O amarelo pode cobrir as rémiges.

É por isso que tenho muito cuidado com a alimentação dos mosaicos e emprego papa seca sem corantes artificiais, com a qual as crias se desenvolvem muito bem, não obrigando ao recurso a antibióticos nos momentos das criações.


Michel Darrigues, Juiz Francês O.M.J.

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